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quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Ela desviava o olhar para tentar disfarçar aquele sentimento
Eu tinha vergonha
Ela mudava a direção
Se dava de ombros 
e a cada vez que um automóvel passava
Virava os pés a favor de mim
Depois contra mim

Mudava o olhar
Encontrava meus olhos e eu pensava
"talvez,
talvez eu não seja feito para isso"

Mesmo assim eu me mantinha
Olhando sem olhar
Tinha a oportunidade de me mergulhar nos olhos e,
não sei
Como os poetas e diretores tentam tanto ilustrar
ver a alma de alguém
Eu não acreditava muito nisto
E me distraia nos meus pensamentos

Sempre me foi mais interessante pensar sobre mim mesmo
Refletir o que sentia do que sentir
Prever o que sentiria
E não me surpreender ao final
Ou me deprimia por não ter encontrado nada depois

Não era diferente neste dia
E não havia nada que remeteria que isso ia mudar
Talvez fiquei ali
Olhando para os seus olhos sem olhar
E ela talvez acreditando que eu o estava a fazer

Fracasso

Um beijo e volto a realidade
Era o que desejava quando voltei a ver
Mas já não havia ninguém ali
Quanto tempo se passara?

Eu costumava fazer muito isso
Eu costumava fazer muito isso
Eu costumava fazer muito isso
Eu costumava fazer muito iss..


A merda da singularidade
Que não é respeitada
Cada ser com uma consciência que considera os preceitos básicos de sobrevivência como um máximo
Todos
Iguais
Tentando socializar, desenvolver, adaptar
E mostrar a mesma impressão insegura

Tentam se encaixar em um espaço que não lhes cabem
Como um brinquedo de passar peças por orifícios de formas geométricas
E se entretém com as tentativas mesmo ao vacilarem
Enquanto eu
Me divirto ou me deprimo
E o único orifício que me interessa são suas bocas
Que justificam o sentimento de deslocamento

Se reencontrar e buscar valores que tem significado pra você
O humano
O limite
Classifica-nos
Um punhado de estantes com prateleiras preenchidas por caixas decoradas
Vazias

Vou pôr tudo em desordem
Depois decidirei se não vale a pena montar um adega
Deixando-a envelhecer
E talvez
Me terá algum valor no futuro