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sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Recebi uma carta em um sonho


Um rapaz adequado, cativante, mantinha-se próximo a minha sombra, eu o via, ele dançando nas ruas, nos pátios, nas salas, no amor. Sorria sem importar o depois, o agora, ou o antes. Conquistava amizades, uma amante, um mundo feito pra ele. E eu o acompanhava, passo a passo.

Um, dois, três pisadas adentro de um bar agradável com luzes amarelas e decorações vermelhas, e cada detalhe daquele cômodo foi moldado como o que ele sentia, um piso indiferente, uma mesa de sinuca indiferente, arestas agudas, e sussurros dolorosos de uma boca meiga e um espírito sagaz.

E nasce aquela confusão, que você não nomeia. Talvez perceba que aquele latejar lacerante não é causa, é resultado de não prever, que agarrar a insegurança para si, e cuidar dela como faz o teu estômago sem pedir permissão, seja o correto.

Tua sombra some, teu medo te engole, e você não deixa de ser quem é. Você continua sendo você, sempre. Mas com um ar de contentamento, de controle. Incendiar-se sem sentir, em prol de valores em que acredita é valorizado por tantos, e no fundo é em que acredita. E faz sentido que continue assim.

Afoga-te em sal, cega-te em luz, e sorri na queda, pois tua alma te abraça.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

O alfaiate

Um ar de humano desinteressante
Olhar despreocupado, tolo ou ignorante
Mas cheio, cheio de algo
Como o seu bigode, vistoso
Que a mão caminha para acariciá-lo descendo até o queixo
Procurando uma barba antes existente, provavelmente tão viva quanto o seu mustache
Tem duas filhas, pequenas
Um pai, chefe, 90 anos, graças a deus
E uma humildade confirmada por orgulho de ser bom samaritano, nesse mundo de horror
Toma seus gorós a noite, sempre a noite, todas as noites
Financiado por sua merrequinha, que paga sua dose, que não sustenta a família, mas que é o seu jeito
De não condenar o mundo, de ser condenado
E crê na felicidade simples, pois teme já se ir, e acredita, entende mesmo nesse saco que somos.
Frágeis, poeira.
Mas agradece a vida, ela que foi tão sacana.
Perdeu mais três amigos semana passada.
Acidente de carro, cirrose, pedra.
Já pensou sim em largar o vício, mas seu argumento é aquele já dito.
E onde vou buscar prazer ?
Para quem já foi surrado, tudo é real e cru.
E toma seus gorós a noite, para vê-la em vultos
Mas não demora muito.
Haroldo Lima, fuma esses cigarros mentolados e vai pra casa.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Você foi o relógio ás três da madrugada
Foi o cachorro sossegado da praça
Foi o capim que nasceu na minha calçada
O café queimado e barato da minha manhã
O suor das axilas dos passageiros
Foi o professor filho da puta

E foi melodia em três tons
Água barrenta do verão
A maresia dentro do mar
Foi meu comprimido
Meu cigarro dopado
Meu cheiro
Meu pênis molhado
Meu vaso sanitário
sobretudo,
Meu vaso sanitário

Mas mesmo assim, nunca deixará de ser eu.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Tolerância.

É a palavra de hoje.
É meu receio de me encantar.
Meu medo de sofrer.
Meu êxito em perder o controle.
Quando, mesmo que parcialmente.

E tem dias que i give a shit para tudo isso.
Que eu misturo fumaça, alcool, e entorno lembranças
nomeando você de foxy lady, rezando para tuas
sombras morderem como você mordia.

E eu tenho a certeza que o descontentamento em não encontrar-te
é bem menor do que meu orgulho, meu selflove mermo esmagaria-me
sem piedade.

Então está tudo bem.
Estamos todos bem.