Páginas

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Resolvo parar e fito a parede a frente, o que reparo é nas ranhuras, na cor, e nos aspectos gerais, exclusivamente físicos. "espero que essas mudanças sejam para melhor" penso eu. 

Sinto um incômodo nos ombros, um mosquito, e com movimento com intenção de removê-lo o esmago, um pequeno besouro preto, não me recordo de não ter visto algum parecido aqui no meu quarto... Sinto um odor de merda exalando de algum local, inspeciono minha mão, e lá está. Um besouro rola bosta ? É assim que eles se parecem ? Não, me lembro de algum documentário do geographic channel e definitivamente não há de ser deles. Deve ser outro, que quando se sente ameaçado, ou morto libera esse odor que deve fazer o seu predador questionar se vale à pena ou não. E de novo aquela indagação, é para melhor ?

Eu preciso de um whisky, qualquer um barato me satisfaria, mas, para o bem ou para o mal, só tenho um whisky caro, que não pretendo gastá-lo com essas ideias baratas que me vem. E, daqui a pouco terei de acordar... se bem que para isso preciso dormir.

Vou lavar as mãos, e as costas para tirar esse odor. E percebo que é claro para mim a diferença entre o cheiro de merda do besouro, e o cheiro de merda genuína. Esta última me trás algumas lembranças, mas nenhuma desagradável. Como pode ? E por que deveria ? Existe cheiro mas natural que cheiro de merda ? Aliás, em tempos de ensino médio, quando subia este odor após um belo peido, havia quem, ironicamente dizia "que cheiro de vida!", mas para mim, mesmo naquele tempo, não me parecia muito irônico, na verdade era bem lógico.

Se me recordo bem, no primeiro parto que assisti, em algum filme, não me veio memória alguma, senão a pelo odor, (aliás, ao assistir filmes, muito do que me preocupo é sobre o cheiro do ambiente. Acho que isso define muito, comportamento, sinestesia, há de ser o nosso sentido mais primordial) do parto do bebê, só me veio o cheiro de merda, como papel descritivo, aquele bebê deveria cheirar a algo, então merda seja. Eu era jovem, e por isso mesmo acredito piamente nesses sentidos.

Eu, por exemplo, estou com uma mania de ler livros no trono. Mas se o banheiro estiver com cheiro de desinfetante isso me incomoda. O leve odor de merda é quase maternal, e deve estar enterrado no meio dessas memórias mais profundas, de modo que ao senti-lo, me acalma, uma recordação instintiva está correlacionada com vários estados com que usualmente nos pomos. E esse odor... é definitivamente acolhedor, de onde viemos, e para onde vamos, como certeza.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

ENSAIO SOBRE A RAIVA (parte 1)

A raiva se desenvolve, cria formas e irradia pelo corpo, até tomá-lo de conta.
Desvirtuará teu caráter, embaçará tua visão e confundirá tua mente.
O processo de re-posse é turbulento e instável, precisa manter-se centrado.
Focar-se em apenas um objetivo ajuda, e muitas vezes a razão se materializa.
Ela surge, e em um piscar de olhos some, não se pode exitar nem questioná-la.
Para continuar esse "exorcismo" você se agarra àquilo
E, aos poucos, sua vista irá se tornando clara, e o que é importante para ti se mostrará.
Podendo haver recaídas, mais, ou menos controláveis.

O problema que para nós o descontrole é sedutor e prazeroso.
O esteriótipo dele nos ilustra como uma vítima, ou melhor, como um animal encurralado.
Onde sua força estremece e o coração bombeia o sangue aquecido.
E isso é muito bom.