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segunda-feira, 18 de agosto de 2014

A TRISTEZA ME PUXA PELAS PERNAS

No pé a escada
a subida dos andares
como é bom viver aos pares
com você
e só...
Sombra...
A música soa quando não tem quem impeça
Na peça da vida
é melhor com você
e só...
Sombra... e o copo cheio
Sem rodeio, sem mentira e atropelo
Seio do que é mais fundamental
e só...
Sombra... e metal e pau de dar pancada
na cabeça e no esfrega
na essência dessas dúvidas
Não me apreça
nem dois copos sobre a mesa
Só tristeza,
Só firmeza,
é o que traz o bom de se pensar.



"Senta, se acomoda
À vontade, tá em casa
Toma um copo, dá um tempo
Que a tristeza vai passar(...)"

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Resolvo parar e fito a parede a frente, o que reparo é nas ranhuras, na cor, e nos aspectos gerais, exclusivamente físicos. "espero que essas mudanças sejam para melhor" penso eu. 

Sinto um incômodo nos ombros, um mosquito, e com movimento com intenção de removê-lo o esmago, um pequeno besouro preto, não me recordo de não ter visto algum parecido aqui no meu quarto... Sinto um odor de merda exalando de algum local, inspeciono minha mão, e lá está. Um besouro rola bosta ? É assim que eles se parecem ? Não, me lembro de algum documentário do geographic channel e definitivamente não há de ser deles. Deve ser outro, que quando se sente ameaçado, ou morto libera esse odor que deve fazer o seu predador questionar se vale à pena ou não. E de novo aquela indagação, é para melhor ?

Eu preciso de um whisky, qualquer um barato me satisfaria, mas, para o bem ou para o mal, só tenho um whisky caro, que não pretendo gastá-lo com essas ideias baratas que me vem. E, daqui a pouco terei de acordar... se bem que para isso preciso dormir.

Vou lavar as mãos, e as costas para tirar esse odor. E percebo que é claro para mim a diferença entre o cheiro de merda do besouro, e o cheiro de merda genuína. Esta última me trás algumas lembranças, mas nenhuma desagradável. Como pode ? E por que deveria ? Existe cheiro mas natural que cheiro de merda ? Aliás, em tempos de ensino médio, quando subia este odor após um belo peido, havia quem, ironicamente dizia "que cheiro de vida!", mas para mim, mesmo naquele tempo, não me parecia muito irônico, na verdade era bem lógico.

Se me recordo bem, no primeiro parto que assisti, em algum filme, não me veio memória alguma, senão a pelo odor, (aliás, ao assistir filmes, muito do que me preocupo é sobre o cheiro do ambiente. Acho que isso define muito, comportamento, sinestesia, há de ser o nosso sentido mais primordial) do parto do bebê, só me veio o cheiro de merda, como papel descritivo, aquele bebê deveria cheirar a algo, então merda seja. Eu era jovem, e por isso mesmo acredito piamente nesses sentidos.

Eu, por exemplo, estou com uma mania de ler livros no trono. Mas se o banheiro estiver com cheiro de desinfetante isso me incomoda. O leve odor de merda é quase maternal, e deve estar enterrado no meio dessas memórias mais profundas, de modo que ao senti-lo, me acalma, uma recordação instintiva está correlacionada com vários estados com que usualmente nos pomos. E esse odor... é definitivamente acolhedor, de onde viemos, e para onde vamos, como certeza.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

ENSAIO SOBRE A RAIVA (parte 1)

A raiva se desenvolve, cria formas e irradia pelo corpo, até tomá-lo de conta.
Desvirtuará teu caráter, embaçará tua visão e confundirá tua mente.
O processo de re-posse é turbulento e instável, precisa manter-se centrado.
Focar-se em apenas um objetivo ajuda, e muitas vezes a razão se materializa.
Ela surge, e em um piscar de olhos some, não se pode exitar nem questioná-la.
Para continuar esse "exorcismo" você se agarra àquilo
E, aos poucos, sua vista irá se tornando clara, e o que é importante para ti se mostrará.
Podendo haver recaídas, mais, ou menos controláveis.

O problema que para nós o descontrole é sedutor e prazeroso.
O esteriótipo dele nos ilustra como uma vítima, ou melhor, como um animal encurralado.
Onde sua força estremece e o coração bombeia o sangue aquecido.
E isso é muito bom.

domingo, 5 de janeiro de 2014

Percebi o tempo e fui pra rua. Mais de duas horas da manhã sentindo sonhos e agonias. Estado de prisão domiciliar. Saio. Tudo deserto. Quando em vez um carro, uma moto passa por mim, desvelando minha solidão urbana, asfáltica. Mas é essa a necessidade: sair, pensar, fumar, andar... Chiliques mundanos atordoam o sono dos que estão em casa; é tarde (ou cedo?!). Passo desapercebido deles, mas observo. Observo também a quentura das paredes das casas dessa cidade: parecem se incluir em cenas oriundas do calor cinematográfico de certos autores. Na outra esquina tem um corpo, não sei se ébrio ou morto, mas bem próximo de dejetos caninos e lixo. Pensei em ligar por socorro àquela pobre manifestação individual, tão rústica, tão frágil, tão esquecida, tão artística... Percebi o medo ao olhar para o alto e me sentir sugado por uma tarrafa de fios elétricos. Morrer preso e eletrocutado... Que horror! Mais honrado seria uma moto me atropelar e eu não agonizar muito. Falta tudo quando falta satisfação. Mas se apoquente não! Todos falam como é bom ser cotidiano...

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

aquele(s) aquela(s) aquilo

antes mesmo que o leite solidificasse
e as guimbas divididas são prazerosas ao se ver restos
de corpos praticantes no chão
pura delícia infernal
malícia de puro transeunte
catástrofe pra quem não vê
sinistro pra quem não sente
vários copos
vários corpos
imensidão de sinais corporais
só disso, daquilo e daquele(a)
ao som de poesias musicadas, das melhores
tudo fica perfeito
o ruim é quando tudo solidifica
tudo é melhor fluindo
tudo é melhor só no flúido
quase tudo é melhor na cama
mas completamente tudo é melhor com um copo cheio
fazendo companhia